Por que alguns indivíduos com peso considerado saudável desenvolvem alterações metabólicas enquando que alguns indivíduos obesos permanecem metabolicamente saudáveis?
Desde o início da década de 80 até os dias atuais pesquisadores tem investigado o que está por trás da obesidade “saudável”. Atualmente, sabe-se que a relação entre dismetabolismo e obesidade é mais complexa do que se imagina.
Entendemos como dismetabolismo a presença de pré-diabetes ou diabetes, aumento dos níveis de triglicérides e LDL-colesterol (“mau colesterol”) , redução nos níveis do HDL-colesterol (“bom colesterol”) e presença de inflamação crônica.
A obesidade por si só não é sinônimo de dismetabolismo, mas por outro lado, ter um peso saudável (entenda-se como índice de massa corporal, IMC entre 18,5 e 24,9) não é sinônimo de saúde. Outros fatores além do peso exercem influência significativa na evolução dessas alterações metabólicas. Os principais fatores são os genéticos e os hábitos de vida.
Fatores genéticos
Alguns genes chegam a contribuir com 25 a 70% na variabilidade da quantidade de massa gorda que um indivíduo consegue acumular ao longo da vida; no tamanho das células que armazenam gordura, conhecidas por adipócitos (quanto maior o tamanho da célula de gordura pior para a saúde); e na distribuição da gordura acumulada dentro do organismo, que pode ser subcutânea (acúmulo de gordura embaixo da pele), visceral e ectópica (acúmulo de gordura nos órgãos e em outros locais como nos músculos).
Quanto maior o acúmulo de gordura visceral e ectópica, pior para o metabolismo e para a saúde. Além do mais, alguns genes também são responsáveis pela habilidade de expansão do tecido adiposo subcutâneo em resposta às dietas hipercalóricas. Em outras palavras, aqueles indivíduos que tem grande capacidade de acumular gordura subcutânea tem menor chance de desenvolver dismetabolismo.
O melhor exemplo que temos são alguns lutadores de sumô. Eles chegam a consumir de 5.000 a 6000 kcal por dia na dieta e são submetidos diariamente a um treino intenso. Nesses indivíduos, a maior parte do excesso de gordura acumulada é do tipo subcutânea e, incrivelmente, mesmo com elevado excesso de gordura corporal, eles são metabolicamente saudáveis.
Aqueles indivíduos que não apresentam habilidade genética em acumular gordura subcutânea acabam armazenando o excesso de gordura em locais como músculos, fígado, coração e pâncreas. É onde está o perigo! O acúmulo de gordura nestes locais gera um quadro que chamamos de resistência à insulina, é quando as alterações no metabolismo começam a surgir e aumenta o risco de diabetes tipo 2. Neste quadro encaixa-se aquele típico indivíduo sedentário, “falso magro” e que tem uma barriguinha indiscreta. Uma maneira de se detectar o “falso magro” é através do teste de bioimpedancia, em conjunto com outros exames clínicos e avaliação médica.
Estilo de vida
Os estudos mostram que uma dieta saudável e o hábito de praticar exercício físico ou ter um estilo de vida ativo são determinantes para um metabolismo saudável. Um trabalho realizado recentemente na Corea, com 3050 mulheres adultas de peso saudável, identificou que um maior fracionamento das refeições esteve associado a um menor risco de dismetabolismo. Neste mesmo estudo, as dietas com teor excessivo em carboidrato (> 73% das calorias da dieta) estiveram relacionadas com maior risco para alterações metabólicas comparadas às dietas com menor quantidade de carboidratos (< 58 % das calorias da dieta).
Aqui no Brasil, em um estudo realizado pelo nosso grupo da UNICAMP com a 1.287 adultos brasileiros, identificamos que a prática regular de uma atividade física, que causa transpiração ou respiração ofegante por pelo menos 30 minutos uma vez por semana, esteve relacionada a um menor risco de alterações metabólicas. Neste estudo, os indivíduos que eram sedentários tiveram 91% mais chance de ter circunferência de cintura elevada, 56% mais chance de ter triglicérides elevado, 30% mais chande de ter o bom colesterol reduzido e 42% mais chance de ter aumento da pressão arterial.
Por fim, entendemos que a genética associada aos hábitos de vida atuam juntos no surgimento das alterações metabólicas. Apesar de alguns indivíduos obesos não desenvolverem alterações no metabolismo, estes indivíduos também precisam de acompanhamento, uma vez que o excesso de peso causa problemas mecânicos que podem levar a doenças como a apnéia do sono, problemas músculo-esqueléticos, dor nas costas e osteoartrite do joelho.
O acompanhamento médico, nutricional e por um profissional da área de educação física são essenciais para a redução do peso corporal e para o controle das alterações metabólicas quando presentes, com ganhos em saúde e qualidade de vida.
Referências
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